quarta-feira, 8 de abril de 2009

Sinais de Fumaça


Quando te encontras no fio do escuro e lhe prestas honras dos teus ossos quando a alma puríssima do ócio pede socorro ao universo inútil quando sobes e desces da dor mostrando cicatrizes de outros tempos quando na tua vidraça está o outono ainda não te despeças/ tudo é nada/são sinais de fumaça/ apenas isso
teu olhar de viagem ou de desert tosse torna um manancial indecifrável ele o silêncio/ teu medo mais valente/se vai com os golfinhos dessa noite ou com os passarinhos da aurora/de tudo ficam sinais/ pistas/ rastros marcas/ indícios/ signos/ aparências mas não te preocupes/ tudo é nada são sinais de fumaça/ apenas isso
no entanto nessas chaves se condensa uma velha doçura atormentada o vôo de umas folhas que passaram a nuvem que é de âmbar ou algodãoo amor que carece de palavras os barros da lembrança/ a luxúria/ou seja que os signos pelo arsão sinais de fumaça/ mas a fumaça leva consigo um coração de fogo
MARIO BENEDETTI

Nenhum comentário: