domingo, 27 de janeiro de 2008

Silepse de um vestido


Era uma vez um vestido. Um vestido alvo como a neve. Um vestido que atraía a todos. Um vestido inocentemente puro e que ficava lindo na vitrine

Um dia, o vestido cansado de ser olhado, resolveu sair para sentir o cheiro, da chuva, do orvalho, das ruas que piscavam com seus asfaltos arco-íris e suas calçadas vermelhas . A Sra. Vida deu forças ao vestido que, depois de muito amassar conseguiu sair do manequim que ficou nu, da vitrine que se apagou, da loja que fechou. O vestido, com suas várias camadas de saias compridas, não conseguiu andar muito. Ele visitou apenas três ruas que antes ele já havia observado pela vitrine. As ruas de perto não tinham asfalto arco-íris, eram apenas sacos que antes eram protetores de vestidos e que agora eram sacos de dormir, e nem calçadas vermelhas, eram apenas latões acessos com fogo para aquecer vestidos velhos e sujos que dormiam em suas linhas de lama. Ele foi andando e se sujando, e se amassando. Ele entendeu que a chuva também trazia com ela o frio, e o orvalho era enamorado do vento, e começou a ficar muito pesado, amassado e desbotado. Muito cansado resolveu voltar para sua vitrine.Agora, o vestido já sujo e usado, passa pela calçada da loja que já reabriu, olha para a vitrine que já se ascendeu e vê o manequim que já vestiu outro vestido.

O último botão caí da manga do vestido e ele imóvel não consegue mais andar nas ruas que lhe sujaram, não gosta mais do cheiro da chuva que lhe trouxe o frio, nem quer mais o frescor do orvalho que lhe apresentou o vento. Ele fica imóvel com suas mangas cruzadas e deseja, em silêncio, achar uma loja aconchegante, uma vitrine clara e limpa e um manequim cuidadoso e forte que possa com sua virilidade devolver sua cor branca, pregar novos botões em suas mangas, fechar o decote rasgado em "V" feito pelas agulhas das ruas, desamassar seus tecidos enrugados e finalmente restituir ao vestido seu brilho apagado.

D.N.A.
27/01/2008
06:30 hs

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

happy new year

O acaso é o caso das situações inusitadas.

Você veio assim, sem querer, sem dar tempo de eu me armar.
Com sotaque gingado, com cérebro inteligente, com posição de dono da história, foi me desarmando. Foi uma conexão sem ruído, que as horas calaram com as palavras trocadas.
O tempo parou. O passado embassou e a esperança acordou.

Acordou para um novo mundo. Acordou para uma nova atmosfera. Acordou para curar amores do passado. O dia ficou mais firme. A noite ganhou um sorriso. O pensamento achou um travesseiro. A caneta deslizou mais fácil. A tinta ficou mais fina. O olhar parou de pesar.

Não importa o futuro, não importa se este novo poema fechará como dramático, romântico ou cômico. O que importa é que eu me permiti ao novo e o novo com o renovo fez me abrir. E de boneca vudu, uma boneca Ipanema fez acordar.

D.N.A.
01:29 a.m
05/01/2008