terça-feira, 20 de maio de 2008

Um depoimento da solidão

Me lembro que desde pequena eu já acordava a noite e ficava na cama pensando e, só nestes momentos eu poderia pensar o que eu quisesse. Pensando em que?? Em tudo, em nada, em esperanças, em objetivos a cumprir, em como crescer na vida e não depender dos meus pais, em família, em casamento, em filhos, felicidade e promessas eternas, em planos de Deus para minha vida. Eu realmente fui uma criança, adolescente e uma jovem muito romântica. Eu também acredita em poder amar uma pessoa só, em "juras eternas de amor feitas ao pé do altar".

Mas o que me faz agora parar, pensar e escrever sobre isso? Acho que é fato de perceber que sempre amei meus momentos de solidão, momentos de direito a estar sozinha sem ter vigilância nos meus pensamentos, a vontade de poder pensar sem ter um crivo pré estabelecido , vontade de ler os fatos sem a distorção da religião, vontade de poder dançar e cantar só pelo fato de ter vontade e não por ter uma obrigação de ter que dançar para "DEUS que me criou e formou". É, as noites sempre foram minhas amigas, minhas confidentes, minha verdadeira metade que custei a ter coragem de trazer a luz. E assim fui crescendo, e com isso a vontade de ter minhas asas e de me expressar contra as verdades absolutas da vida. Acho que no fundo, o que me moveu para sair do recinto materno e querer criar meu espaço legalizado com outra pessoa foi o fato de poder me libertar de uma doutrina. Este foi um dos primeiros passos,inconsciente, mas o primeiro passo para o meu nascimento. Foi bom, foi gostoso, mas as noites continuavam presentes, meus questionamentos continuavam latentes, e a cada dia eles ficavam maiores. Minha solidão era maior ainda do que quando criança, e num determinado dia percebi que eu era uma pessoa socialmente casada e acompanhada e intimamente muito sozinha. Assim, meus escritos tomaram forças novamente, minhas ideias libertárias, minhas fantasias pecaminosas, minhas histórias inventadas e minhas insonias eram puros momentos de solidão e de coragem de poder ver a vida por um outro anglo. Ainda não sei o que é certo ou errado, quem tem razão quem não tem, mas realmente, não gasto mais tempo com este tipo de pensamento. Sendo assim, mesmo tendo a certeza da incompreensão da sociedade cristã, das fofocas que com certeza gerariam pois existe a necessidade de desculpas culposas para rompimentos que eram criados por Deus, mesmo assim decide tentar ser uma mulher sozinha. A maioria das minhas amigas, e em alguns raros momentos volto a ter esta vontade também, busca e vive com um único lema de não serem sozinhas, de encontrarem um grande amor, de vida de felicidade. Mas comigo este momento passa, como se fosse uma cólica que se ficar quieta passa e não mais vivo com este tipo de romantismo. Não acredito que alguém possa me fazer feliz, acredito que os momentos de felicidade, tristezas, alegrias e depressão são gerados apenas por mim e pode estar certo que estou tendo êxito nisto. Não acredito que alguém possa ter esta grande responsabilidade de me fazer feliz. Sendo assim, saí de mais um recinto e entrei num novo que não conhecia. Também achei que nele a liberdade seria sair, beber, dançar, beijar e não ter compromisso com ninguém. Fugi de relacionamentos sérios como um rato de um gato. Sair de madrugada e voltar de manha fazer, dentro do padrão da minha criação, loucuras eram o êxtase da liberdade, mas minhas noites continuavam presentes, avançando sim , pois meus pensamentos contemplavam outra dimensão e não mais a de garota romântica. Uma certa responsabilidade social com a pobreza foi crescendo e dei um basta ao meu capitalismo desenfreado. A irritação com preconceitos padrões como a diferença sexual também aflorou e levantei a bandeira que gays também são pessoas como as outras com direitos aos outros e que não podem ser excluídos da sociedade cristão como um cão sarnento. As saídas começaram a ficar chatas e repetitivas e com o tempo passei a preferir conversar em bares com pessoas intelectualmente ativas e que de alguma forma não receitavam soluções para os problemas. O fato de estar nestes lugares, receber estas energias por osmose, de passar madrugadas conversando, debatendo, rindo, falando besteiras ou não,realmente foi o meu melhor recinto até agora, mas como em todos os espaços que passei havia também um prazo de validade e acabei entrando num novo e inteiramente inesperado recinto, o da maternidade.

Este sim, me dá uma responsabilidade enorme, pois sei que panos de fundo dos humanos estão atrelados aos seus pais. Que grandes traumas e alegrias são de responsabilidade de criação, e que mesmo com todos estes anos da humanidade, a criação de filho é uma grande incógnita para o ser humano. Toda a minha gravidez, e agora já estou no nono mês, foi de grande reflexão, grandes insônias, grandes tristezas e alegrias pelo simples responsabilidade de ter uma outra responsabilidade e de estar fora de um padrão de família social. Não sofro mais com estes pensamentos mas eles são reais. Não acredito que minha educação para com meu filho seja baseado na que recebi dos meus pais. Hoje penso muito diferente, enxergo por outro ângulo, e é nele que vou confiar o meu "feeling" para ajudar o meu filho a entrar neste mundo tao cruelmente real e tão mentirosamente romântico. Eu sei, que não serei tão sozinha,e por um tempo, minha solidão estará comprometida pois terei um bebê que estará totalmente dependente de mim, mas sei,e fico feliz, que este momento é passageiro e que depois cada um poderá continuar a ter seus preciosos e libertadores momentos de solidão. Um brinde a SOLIDÃO que liberta, que traz dor e desanestesia as pessoas das mentiras pregadas no mundo. Hoje fui ao médico e ele disse que a partir de hoje o meu filho poderá nascer a qualquer momento, ele irá decidir quando chegará e está decidindo ser agora, antes do previsto. Tenho medo desta mudança, tenho medo deste novo recinto, tenho medo de não dar conta, mas o medo sempre me impulsiona....bem-vindo meu filho..pode vir que eu estou te esperando para entrarmos neste recinto juntos!!!
DNA
04:47 a.m
20/05/2008

4 comentários:

caio disse...

nossa...cada dia que passa te admiro mais...apesar de perceber, aos poucos, grandes diferenças entre nós dois, passo a te reverenciar cada vez mais.
parabéns pela coragem, parabens pela força, parabéns por ser vc.
saiba que, na sua solidão, existem 06 bilhoes de pessoas na mesma frequencia...infelizmente, a maioria acovardando-se....

D.N.A. disse...

Obrigada Caito querido. Vc já sabe que eu tbm o admiro. Sei que somos parecidos e diferentes ao mesmo tempo, ainda bem!! Dá pra aprender um com o outro!bj

Renan disse...

olaa
estava fuçando pela net, e vi seu blog!
ele foi reportagem especial de uma revista que criamos em um trbalho voluntário!
se quiser conferir como ficou entra em contato comigo renancarrascosa92@hotmail.com
a capa da revista foi sua frase
parabens!

D.N.A. disse...

Obrigada Renan..